Câncer

Cabeleireira de Araguaína relata drama de enfrentar a radioterapia longe da família e amigos

Nilva passou por sessões de quimioterapia, cirurgia e faz radioterapia em Imperatriz.

Por Márcia Costa 2.797
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24/10/2019 08h20 - Atualizado há 4 anos
Após a cirurgia da retirada dos nódulos

A cabeleireira Nilva Pereira Neves, 43 anos, é uma das muitas pessoas em Araguaína que fazem radioterapia em Imperatriz (MA) na luta contra o câncer. Além de enfrentar a doença, os pacientes são obrigados a passar pelo severo tratamento longe de amigos e familiares.

A máquina de radioterapia instalada neste ano na Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia do Hospital Regional de Araguaína ainda não está em pleno funcionamento, apesar de já ter sido liberada pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). O motivo seria a falta de profissionais para operar o equipamento.

“Não queria sair da minha cidade e fazer o tratamento fora. Máquina de radioterapia tem, mas não sei para quem está funcionando. Sou obrigada a fazer fora. Infelizmente estou numa casa de apoio, aqui convivo com muitas pessoas. Vivemos através de doações, não é legal para quem está doente sair do seu estado para outro, é humilhante”, disse Nilva.

A cabeleireira recebeu o diagnóstico de câncer de mama em maio de 2018 após o aparecimento de nódulos debaixo do braço. Também sentia dores e pinicados nos seios. Nilva passou por quimioterapia, cirurgia e, neste mês de outubro, iniciou o tratamento de radioterapia em Imperatriz.

Ela disse que ficou muito feliz com a instalação da máquina de radioterapia em Araguaína, mas se decepcionou ao saber que continuaria fazendo o seu tratamento fora do Estado.

“Fiquei sabendo que até 10 sessões faz aqui na máquina [Araguaína], acima disso vai para fora. Está errado, é injusto! Tem uma máquina instalada. Não sei qual é a mentirada deles. Tem gente que chega de fora doente e vai embora pior, não pelo tratamento, mas pela depressão. Longe dos parentes, longe de tudo, e com diagnóstico de câncer”, desabafou.

No Maranhão, a paciente está numa casa de acolhimento e disse que a instituição sobrevive de doações. Por não trabalhar em consequência da doença, Nilva não consegue fazer a dieta médica.

 “Estou aqui não porque quero, choro muito. Mas sou obrigada para viver. Quem é que não quer fazer tratamento em sua cidade? Tudo tem gasto. Preciso comprar alimento, a gente tem dieta e como a gente consegue comprar? Estou impossibilitada de trabalhar. Sou obrigada a comer o que tem. Na minha cidade estaria ao lado dos meus parentes e com certeza estariam me ajudando. Fiz quimioterapia, cirurgia e agora rádio, devido às consequências do tratamento é complicado para andar e preciso descer 20 degraus aqui. É dificultoso demais. Nossa, é difícil. Só quem tem vontade de viver passa por isso”, lamentou.

AÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

O Ministério Público Estadual do Tocantins já pediu a aplicação de multa pessoal ao secretário estadual da Saúde por ato atentatório à Justiça, em razão do descumprimento da liminar que obriga o Estado a colocar em funcionamento o aparelho de radioterapia de Araguaína, além de outras medidas coercitivas.

A 5ª Promotoria de Justiça da Araguaína, que atua na área da saúde pública, ainda encaminhou cópias do processo a outras promotorias de Justiça, para que apurem eventual responsabilidade criminal e na área da improbidade administrativa em decorrência do descumprimento da liminar.

O QUE DIZ A SES/TO

"A Secretaria de Estado da Saúde (SES/TO) informa que possui serviços de radioterapia, com atendimentos regulares em Araguaína e Palmas, além de suporte em Imperatriz/MA. 

Em Araguaína, os atendimentos ( urgência/emergência, tratamentos paliativos, além de tratamentos hipofracionados) retornaram este ano e está ampliando a oferta conforme capacidade do serviço, mas dependendo da complexidade dos casos, os pacientes podem ser transferidos para outras localidades como Imperatriz/MA ou Palmas/TO.  

A SES ressalta que nenhum paciente está sem o tratamento oncológico no Tocantins e o Estado arca com os custos de um tratamento fora de domicilo (TFD), com acompanhante".

Cabeleireira em Imperatriz (MA)
Nilva antes do câncer

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