Tocantins

Em manifesto, 18 entidades condenam chacina com 6 mortes: 'face cruel da falta de justiça'

'Não se faz justiça com as próprias mãos', escreveram as entidades.

Por Conteúdo AF Notícias 4.107
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09/02/2022 14h43 - Atualizado há 2 anos
Pai e filho foram executados dentro da Delegacia de Polícia Civil

Quase 20 entidades manifestaram repúdio à execução de 6 pessoas em Miracema do Tocantins logo após a morte do 2º sargento da Polícia Militar Anamom Rodrigues de Sousa, no último fim de semana.

As entidades cobraram apuração e punição dos autores dos crimes e destacaram que quase todos os mortos são negros. "As mortes representam a face mais cruel da intolerância e falta de justiça".

Conforme o manifesto, as mortes podem ter sido motivadas por sentimento de vingança e por “pessoas que representam a ordem e a segurança do povo de Miracema”.

No manifesto, as entidades também defendem a desmilitarização da polícia e a construção de um novo modelo de segurança pública, com participação da população e que tenha como centro a defesa dos interesses da população mais pobre e marginalizada. “É necessária uma polícia cidadã que se aproxima da classe trabalhadora e se reconheça como parte desta classe”, dizem.

As entidades também prestaram solidariedade aos familiares dos mortos e finalizam dizendo que “não se faz justiça com as próprias mãos”.

MPTO E SEGURANÇA PÚBLICA INVESTIGAM 

As sete mortes vão ser investigadas em conjunto pelo Ministério Público do Tocantins e pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) do estado. Uma reunião já foi realiza nesta terça-feira (8) para discutir e avaliar as ações já realizadas.

OS 7 MORTOS 

A primeira morte registrada foi do 2º sargento da Polícia Militar,Anamom Rodrigues de Sousa, durante confronto com criminosos. O principal suspeito pelo crime, Valbiano Marinho da Silva, de 39 anos, também foi morto. 

Durante a madrugada, o pai e irmão de Valbiano, que prestavam depoimento, foram executados dentro da delegacia por 15 homens encapuzados. As vítimas são Manoel Soares da Silva, de 67 anos, e o seu filho, Edson Marinho da Silva, 37. Manoel era pai de Valbiano.

Pai e filho haviam passado a madrugada na delegacia e tinham sido liberados, mas estavam aguardando o dia amanhecer para voltarem para casa com segurança, segundo consta no Boletim de Ocorrência.

Na manhã seguinte, outros três jovens foram encontrados mortos na cidade. As vítimas são Aprigio Feitosa da Luz, Gabriel Alves Coelho e Pedro Henrique de Sousa Rodrigues.

VEJA O MANIFESTO NA ÍNTEGRA

"A Comissão Justiça e Paz da Regional Norte 3, o Movimento Estadual de Direitos Humanos do Tocantins, entidades associadas e subscritoras, vem a público manifestar repúdio a execução de seis pessoas em Miracema do Tocantins, na madrugada do último sábado (04/02). Mortes que representam a face mais cruel da intolerância e falta de justiça.

Conforme registros da ocorrência noticiados pela imprensa local, foram chacinados um idoso e cinco jovens, maioria negros, sendo que, conforme noticiado, apenas uma das vítimas tinham antecedentes criminais. Entre os mortos, estão um pai e os seus dois filhos.

A chacina de jovens, principalmente negros, no Tocantins não é exceção, mas tem se constituído em uma regra. A suspeita é que o crime tenha sido praticado por pessoas que representam a ordem e a segurança do povo de Miracema do Tocantins.

Fato gravíssimo ainda é que dois dos chacinados, um pai e seu filho, estavam sob custódia do Estado, ou seja, foram levados à Delegacia por que em sua casa foi encontrada uma espingarda.

Dentro de Delegacia eles foram chacinados por 15 homens encapuzados. Outro filho foi morto na residência de sua família e mais três jovens foram assassinados no mesmo dia. Os indícios apontam que todos os homicídios estejam interligados, uma vez que ocorreram após a morte de um policial em serviço.

Ao que tudo indica, as mortes apontam para uma possível vingança por causa da morte desse policial em troca de tiros nas imediações de uma periferia de Miracema, ocorrida exatamente um dia antes dessa chacina (03/02). Desde então, operações de foças de segurança no local passaram a ser diárias, assustando os moradores.

Segundo relato da família das vítimas, “eles já vieram determinados a matar na maldade, foi um massacre”, afirmou a mãe que perdeu os dois filhos e o esposo.

A truculência de quem tem o dever de proteger e preservar a vida não é novidade para moradores de comunidades dos bairros pobres do estado. Arbitrariedades, prisões ilegais, desaparecimentos súbitos, são a regra e, nesses casos, geralmente, a polícia alega que houve troca de tiros e registra a ocorrência como “auto de resistência”.

Ressaltamos que o resultado das ações de governos que apostam na criminalização e na “brutalização” contra as comunidades das periferias – assim como do campo – resultam no aprofundamento da violência em todos os níveis sociais. É claro que os crimes de autoridades policiais devem ter punições, assim como de qualquer cidadão. O que não se pode tolerar é o extermínio de pessoas.

Manifestamos pela apuração e punição desse crime nos termos da lei, que não prevê execuções penais, não prevê vingança, tortura ou pena de morte. O Estado, que detém o exercício legítimo de conter a violência, não deve permitir que seus próprios agentes procurem justiça com as próprias mãos. Seria a volta da barbárie se assim o fizesse.

Defendemos a desmilitarização da polícia e a construção de um novo modelo de segurança pública, com participação da população e que tenha como centro a defesa dos interesses da população mais pobre e marginalizada. É necessária uma polícia cidadã que aproxima-se da classe trabalhadora e se reconheça como parte desta classe.

Queremos que haja uma rápida e eficaz investigação dos vários assassinatos, que têm todos os sinais de ser uma chacina por vingança, a identificação e punição dos 15 homens encapuzados que invadiram a delegacia e assassinaram os detidos e a apuração de possível participação de agentes públicos na execução ou facilitação desses atos.

Aproveitamos a oportunidade para, além de repudiar mais essa chacina, manifestar forte e irrestrita solidariedade aos familiares dos jovens chacinados. Não se faz justiça com as próprias mãos, queremos um mundo que defenda os direitos humanos onde Justiça e paz se abraçarão".

ASSINAM O MANIFESTO 

  1. Comissão Justiça e Paz, regional Norte 3
  2. Movimento Estadual de Direitos Humanos do Tocantins
  3. Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente Glória de Ivone – Palmas
  4. Centro de Direitos Humanos de Araguaína
  5. Centro de Direitos Humanos de Cristalândia/Regional
  6. Centro de Direitos Humanos de Formoso do Araguaia,
  7. Centro de Direitos Humanos de Palmas/Regional,
  8. Centro de Direitos Humanos de Porto Nacional
  9. Centro de Direitos Humanos de Taguatinga (TO)
  10. Centro de Educação Popular - Palmas
  11. Comissão Pastoral da Terra – CPT/Araguaína
  12. Conselho Indigenista Missionário - CIMI – Tocantins e Goiás
  13. Comsaúde- Porto Nacional
  14. Fórum estadual de usuários do SUAS - Estadual
  15. Grupo de consciência negra – Enegrecer
  16. Movimento dos Atingidos por Barragens – Estadual
  17. Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST/Estadual
  18. Instituto de Art´Afro e Direitos Humanos
Os 7 mortos

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