Automutilação

'Comecei depois que vi fotos na internet', diz jovem do Tocantins que venceu a automutilação

Ela tem 17 anos e deixou um recado para os jovens que passam pelo mesmo problema.

Por Nielcem Fernandes 1.942
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28/08/2019 15h20 - Atualizado há 4 anos
Lesões no braço

Na atual sociedade, é cada vez mais comum que os jovens e adolescentes relatem experiências que acarretam dor, tristeza e angústia durante o processo de desenvolvimento pessoal e de afirmação social. Muitos enfrentam problemas como a autoaceitação, o preconceito e o bullying, principalmente no ambiente escolar.

Apesar de o Brasil não ter dados estatísticos específicos quando o assunto é violência autoinfligida, o que se percebe nos colégios, consultórios e nos relatos postados nas redes sociais é que esses casos estão aumentando a cada dia entre a população de jovens e adolescentes.

Porém, segundo um levantamento feito pela Organização Pan América de Saúde no Brasil, estima-se que 62 mil adolescentes morreram em 2016 como resultado de autolesão.

MPTO

Na vanguarda da defesa dos direitos das crianças e adolescentes, e na promoção de políticas públicas de prevenção, o Ministério Público do Tocantins (MPTO) vêm desenvolvendo desde 2018 o projeto CulturaMP, que tem como um dos seus principais objetivos a campanha de prevenção à automutilação e suicídio entre crianças e adolescentes.

A campanha de prevenção tem o propósito de chamar a atenção da sociedade e mobilizar instituições, pais e os próprios jovens para a fomentação e promoção da saúde mental entre crianças e adolescentes, utilizando a cultura Hip Hop como ferramenta de diálogo.

O projeto, que foi criado com a participação efetiva do público jovem, contará com oficinas de formação política e intervenção prática. Inicialmente adolescentes de 14 e 15 anos formam o público alvo das oficinas que serão realizadas em três escolas públicas de Palmas.

A Promotora de Justiça Zenaide Aparecida da Silva, coordenadora do CulturaMP, destacou o papel constitucional do MPTO no trabalho de defesa e proteção das crianças e adolescentes através da 21ª Promotoria de Justiça de Palmas e explicou como funciona o projeto.

“O trabalho de prevenção e defesa desenvolvido pelo Ministério Público Estadual envolve também atos de prevenção. Diante do aumento do número de violência autoinfligida entre os jovens e adolescentes no Tocantins, resolvemos realizar uma abordagem de forma diferenciada diretamente com o público escolar. O projeto entra na modalidade de transformação social. Hoje o Ministério Público é o grande mediador da transformação social, desenvolvida em parceria com Organizações Não Governamentais (ONG´s), entidades privadas, Polícia Militar e vários segmentos do poder público”, explicou.

CulturaMP 

Alunos de 14 e 15 anos do CEM Castro Alves participaram da 1ª oficina / Foto: Nielcem Fernandes / AF Notícias

Na última quinta-feira (22), o projeto CulturaMP realizou a primeira oficina com alunos do Centro de Ensino Médio Castro Alves, na zona norte de Palmas. Representantes do MPTO, do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cedeca) Glória de Ivone e do coletivo Unidos Por um Mundo Melhor (UPMM) participaram da atividade.

A coordenadora do UPMM, Julia Albuquerque, falou sobre a importância do diálogo com os adolescentes em uma linguagem diferente da convencional utilizando a cultura Hip Hop como instrumento de interação. “O UPMM é um projeto de jovens da periferia que trabalha por jovens da periferia de forma voluntária. Além do trabalho social, atuamos também na parte cultural. No projeto CulturaMP usamos as ferramentas do Hip Hop para falar em uma linguagem de jovem para jovem sobre temas tabu, como suicídio, morte, automutilação, gravidez na adolescência, entre outros. Infelizmente recebemos muitas ocorrências de jovens que se automutilam no coletivo. A ideia dessa parceria com o MPTO é fazer com que eles entendam nossa linguagem para conseguir se expressar a respeito desses problemas”, disse.

Quem coordenou as atividades da primeira oficina foi a assistente social do Cedeca, Bárbara Xavier, que fez referência aos diversos sentimentos por quais os jovens e adolescentes passam durante essa fase da vida. “Nós entendemos que a infância e a adolescência são fases em que todos experimentam o sofrimento. Ninguém deixa de ter sentimentos e a tristeza é um deles. A partir do momento em que a gente se reconhece na sociedade, começamos a saber como lidar com nosso sofrimento, lidar com o sofrimento do outro”, afirmou.

Coordenadora do UPMM aposta no Hip Hop como ferramenta de diálogo / Foto: Nielcem Fernandes / AF Notícias

Alunos

“Eu gosto muito de ajudar meus amigos e conversar com todo mundo. Essa oficina pode me ajudar bastante a entender o como eles pensam. Aqui na escola conheço pessoas que passam por esse problema da automutilação. Fiquei bastante preocupada e conversamos muito e ela decidiu que não iria mais se machucar”, disse a aluna Isabela Ribeiro, de 16 anos, estudante do 1º ano do ensino médio do Centro de Ensino Médio (CEM) Castro Alves ao ser questionada a respeito da importância da realização da oficina.

Outra aluna do CEM Castro Alves, de 17 anos, que enfrenta o problema da automutilação desde os 14 anos, contou ao AF Notícias e contou como tudo começou. “Comecei depois que eu vi fotos na internet. Depois aconteceu um monte de problemas na minha casa e foi piorando. Primeiro com cortes pequenos, depois foi evoluindo. Eu me livrei dessa obsessão através de um tratamento a longo prazo”, explicou.

A adolescente ainda está em fase de tratamento e deixou um recado para os jovens que passam pelo mesmo problema. “Antes de fazer isso, conversem com alguém. A automutilação não é uma saída é só uma sensação repentina que vem e depois some. Conversar é a melhor forma de enfrentar os problemas. Eu consegui melhorar graças à ajuda que recebi”, declarou a estudante. 

Quatro passos para ajudar uma pessoa sob risco de suicídio

Converse

Encontre um momento apropriado e um lugar calmo para falar sobre suicídio com essa pessoa. Deixe-a saber que você está lá para ouvir, ouça-a com a mente aberta e ofereça seu apoio.

Acompanhe

Fique em contato para acompanhar como a pessoa está se sentindo e o que está fazendo.

Busque ajuda profissional

Incentive a pessoa a procurar ajuda profissional e ofereça-se para acompanhá-la a um atendimento em Unidades Básicas de Saúde, CAPS e serviços de emergência (SAMU 192, UPA 24h, Pronto Socorro e hospitais).

Proteja

Se há perigo imediato, não a deixe sozinha e assegure-se de que a pessoa não tenha acesso a meios para provocar a própria morte (pesticidas, armas de fogo, medicamentos, etc.)

Quer conversar?

Ligue 188

O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas em todos os dias.

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