Uma das integrantes do grupo disse que já sofreu racismo no ambiente de trabalho.
Um grupo de mulheres está levando conhecimento e conscientização sobre a cultura e religião afro-brasileira em Araguaína. O objetivo inicial era apenas debater sobre os cuidados com os tipos de cabelos afro e cacheado e também sobre transição capilar, que é quando a pessoa deixa de fazer o uso de química no cabelo (progressiva, relaxamento, alisamento, e volta a usar o cabelo natural).
Mas agora, o grupo União das Crespas e Cacheadas de Araguaína tornou-se uma rede de apoio para homens e mulheres que estão passando pela transição capilar, dando dicas e encorajamento para construção de uma consciência racial.
Uma das principais missões do grupo é combater o racismo, a desigualdade e injúria racial em prol da valorização, empoderamento, representatividade e fortalecimento da identidade negra.
Uma das integrantes do grupo disse que já sofreu racismo no ambiente de trabalho por ser morena e ter o cabelo cacheado.
"Uma mulher disse que meu lugar era na senzala e que devia ficar calada se eu quisesse continuar trabalhando. Fiquei muito mal, pois só quem passa por uma cena de preconceito sabe a dor. Mas depois entrei com processo para que ela não faça isso com outras pessoas. Sou negra e tenho muito orgulho da minha pele", relatou.
Também é comum elas ouvirem referências como "cabelo duro, grulí, pixaim, bombril, palha de aço, bombril, buxa, juba, capacete e ruim".
O grupo participa de eventos, oficinas, encontros, palestras e além de dar depoimentos, discute sobre a inclusão do negro nas universidades e cargos públicos com o advento da Lei de Cotas raciais, acesso à saúde, marginalização generalizada do negro, crime de racismo e injúria racial, discriminação étnico-racial, história e evolução econômica e sociocultural da população negra no Brasil, direitos indígenas e quilombolas.
Segundo Marta Miranda, bacharel em Direito e integrante do grupo, é importante ressaltar a consciência negra a todo momento e neste mês de novembro o grupo deixará uma reflexão sobre a evolução histórica do povo negro no Brasil e, principalmente, em Araguaína.
“Unidos lutamos para resistir a estereótipos pré-estabelecidos, que por sua vez atingem de maneira negativa homens e mulheres de pele negra, além de destacar a importância do homem e mulher negra como sujeito ativo de mudanças sociais. O cabelo é uma extensão do corpo e para muitas pessoas negras, é um grande problema. Com isso queremos demonstrar que o cabelo crespo ou cacheado tem seu valor e é um ícone identitário do corpo negro”, afirmou.
O Grupo está aberto a convites para participação em eventos com depoimentos e apresentação de trabalhos acadêmicos, bem como para realização de oficinas. Interessados devem entrar em contato (63) 99221-4024.
Quem faz parte do grupo
A União das crespas e cacheadas existe desde 2016 e atualmente é composta por mais de 80 membros, sendo homens e mulheres, em sua maioria universitários, estudantes do Instituto Federal do Tocantins (IFTO), bacharéis, licenciados, doutores, doutorandos, mestres e mestrandos com formação acadêmica na Universidade Federal Tocantins (UFT) e integrantes de faculdades particulares.