Luto

Professora e líder quilombola do Tocantins, Fátima Barros morre aos 48 anos de covid-19

Ela figurava entre os principais expoentes do movimento quilombola.

Por Conteúdo AF Notícias 1.447
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06/04/2021 20h43 - Atualizado há 3 anos
Fátima estava internada na UTI do HRA desde o dia 19 de março e não resistiu a doença

A pedagoga, professora e uma das maiores líderes quilombolas do Tocantins e da região Amazônica, Maria de Fátima Batista Barros, 48 anos, faleceu nessa terça-feira (06), vítima de complicações causadas pela covid-19.

Ela foi diagnosticada com a doença e internada no dia 15 de março após procurar o Hospital Municipal de Araguatins se queixando de febre e dores no corpo. No dia 19 de março, foi transferida para a UTI do Hospital Regional de Augustinópolis onde chegou a ser intubada no dia 24 de março, mas não resistiu à infecção provocada pelo coronavírus.

Formada em pedagogia pela Universidade Federal de Goiás (UFG) em 2002, Fátima era defensora da cultura e figurava entre os principais expoentes do movimento quilombola no Tocantins e no Brasil.

Nascida no município de Araguatins, região do Bico do Papagaio, a educadora é a 9ª dos dez filhos de seu Cantidio Barros e Dona Vicência Barros. Quebrando paradigmas, Fátima também foi a primeira de sua família a ingressar no ensino superior.

Depois da faculdade, Fátima retornou para Araguatins, e assumiu a função de coordenadora pedagógica na antigo Centro de Ensino Médio Professora Antonina Milhomem (CEMPAM), onde também foi supervisora pedagógica.

Em 2007, assumiu a coordenação regional de educação para a diversidade e trabalhou com pautas da diversidade em 12 municípios em 56 escolas e coordenava uma equipe de 32 técnicos pedagógicos, atendendo educação do campo, educação indígena, Pro jovem Campos Saberes da Terra, EJA, ENCCEJA, Brasil Alfabetizado, Educação Profissional, Educação Especial/Educação Inclusiva, programas de correção de fluxo e distração idade série, alimentação escolar, entre outros programas.

Em nota, o Coletivo Feminista de Mulheres Negras do Tocantins- Ajunta Preta, manifestou solidariedade aos familiares e lamentou a morte da líder cultural.

NOTA NA ÍNTEGRA

"Para além do seu comprometimento com a educação pública, Fatima lutou bravamente pelo reconhecimento e titulação do Quilombo Ilha São Vicente, onde reside o seu povo remanescente de africanos escravizados. À esta luta, ela somou uma trajetória de vida dedicada em defesa de todos os povos tradicionais e do direito ao território, enfrentando corajosamente o latifúndio e o Estado e tornando-se uma das principais vozes afro-brasileiras contra a violência no campo.

A partida precoce de Fátima Barros, infelizmente é mais uma consequência do governo genocida de Jair Bolsonaro e de seus algozes, que sem qualquer constrangimento se colocaram como inimigos dos povos tradicionais, e que perversamente fortalecem a presença do coronavirus nos territórios, retardando o acesso à vacinação.

Apesar da revolta e da tristeza, é preciso que não esqueçamos e que não deixemos que se esqueça que o legado de luta que Fátima Barros nos deixa é uma herança que atravessou o Atlântico e que continuará na nossa trajetória e das futuras gerações. Como ela sabiamente nos diz:

“Somos a luta daqueles que atravessaram o mar nos navios, daqueles que retornaram em nós e que depois de nós voltarão em outros guerreiros. Nós somos povo Banto! Nós não morremos! Nós sempre voltaremos! Nós somos guerreiros de Zumbi e Dandara, nós somos a força do Quilombo!”

O Ajunta Preta presta afetuosas condolências aos familiares e ao povo do Quilombo Ilha São Vicente, assumindo o compromisso de honrar a memória e o legado eterno da companheira Fátima Barros.

Fátima presente! Fátima semente!"

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