<div style="text-align: justify;"> <span style="font-size:14px;"><u><strong>Alexandre Garcia</strong></u><br /> <br /> O mundo assiste horrorizado à matança na Síria. Em 19 meses de lutas entre governo e rebeldes, morreram 32 mil pessoas, segundo a ONU. Pois aqui no Brasil, no mesmo período, foram assassinadas 85 mil pessoas, segundo projeção de dados do IBGE e do Ministério da Saúde. Abro jornais, revistas, ligo a TV, ouço o rádio, e o que mais aparece são conselhos de como se precaver de assaltos e sequestros. A sensação que se tem é que, se os governos não têm competência para cumprir seus deveres de dar segurança aos cidadãos, então empurram a responsabilidade para as vítimas. As pessoas que se acautelem e se defendam como puderem. Vale lembrar que um dos conselhos que as autoridades dão é: "Não reaja."<br /> <br /> O país, além de não ter competência para conter o crime e as drogas que em geral estão na raiz da violência, ainda pede que não reajamos. A turba de incompetentes avisa os bandidos: podem assaltar, sequestrar, que estamos recomendando passividade aos cordeiros. No referendo de 2005, 64% dos eleitores disseram "não" ao desarmamento porque sabem que os bandidos não são desarmados. E que não se deve deixar o assaltante com a certeza de que a vítima está desarmada e não vai reagir. Os bandidos percebem a confusão das autoridades e matam até policiais. Já são cerca de 90 policiais mortos neste ano em São Paulo.<br /> <br /> Armas e drogas entram no país com facilidade e vão para os bandidos e traficantes. Os viciados sustentam os traficantes e seus ramos criminosos. E o resultado é a falta de segurança em todas as cidades, não importa o tamanho. Quando se começa a ler os decálogos das autoridades, sobre tudo que temos que fazer para nos prevenir, talvez a gente conclua que o melhor é se mudar para o Chile, por exemplo. O Brasil é uma consequência do enfraquecimento da lei. E não podemos dizer que a culpa é só daqueles que assumem cargos sem competência. A responsabilidade também é nossa, quando não fazemos a nossa parte. Ou será que é apenas o outro que sonega, passa sinal fechado, faz barulho para o vizinho, joga papel na rua e vota em safado? Nós somos parte da bagunça nacional.<br /> <br /> Estamos num beco sem saída. Cedemos, nos alienamos, calamos, deixamos nossa energia em clubes de futebol. Estamos com 150 homicídios por dia. A Síria é fichinha, perto da nossa matança. Sem contar mais de 200 mortos por dia no trânsito sem lei. E esse fruto amargo e sangrento que estamos colhendo não aparece de repente. Foi resultado de uma longa semeadura - e durante anos adubamos as sementes do mal. Agora aí está a colheita, a nos oferecer a paz de cemitério.<br /> <br /> <em>Alexandre Garcia é jornalista em Brasília. Texto publicado originalmente em Só Notícias</em></span></div>