Adeus a Siqueira!

Siqueira é sepultado com honras de Estado; 'será a história mais densa daqui a mil anos', diz Wanderlei

Ex-governador foi sepultado sob aplausos no cemitério Jardim da Paz, em Palmas.

Por Redação 803
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06/07/2023 09h19 - Atualizado há 9 meses
Despedida do ex-governador Siqueira Campos

“O ex-governador Siqueira Campos merece todas as homenagens, tanto do Governo quanto do nosso povo, por tudo que ele representa”. Essas foram as palavras do governador Wanderlei Barbosa ao prestar as últimas homenagens a José Wilson Siqueira Campos, no Palácio Araguaia, onde foi velado. 

Wanderlei chegou acompanhado pelo pai Fenelon Barbosa, primeiro prefeito da capital. Na ocasião, ele disse que os tocantinenses são gratos a Deus por ter dado a oportunidade de contar com um político da altura de Siqueira Campos, que proporcionou grandes avanços para o Estado.

“Temos gratidão a Deus, que deu a oportunidade do governador Siqueira Campos proporcionar tantos benefícios para o nosso povo e para o nosso Estado. Hoje existe aqui a convergência e a compaixão de todos os tocantinenses pelo homem que representou e representa muito, porque daqui a mil anos será a história mais densa deste Estado”, disse.

Wanderlei Barbosa também participou da missa de corpo presente celebrada pelo arcebispo de Palmas, Dom Pedro Guimarães, na ala norte do Palácio Araguaia, e do enterro do ex-governador no Cemitério Jardim da Paz, na capital, onde foi homenageado com salva de tiros e outras honras militares destinadas a chefes de estado.

Siqueira Campos morreu nesta terça-feira (4), às 19h25 aos 94 anos, em um hospital particular de Palmas, onde estava internado desde o dia 29 de junho, e foi a óbito devido a uma infecção generalizada. Durante todo o dia, Siqueira Campos foi homenageado por cantores e artistas tocantinenses, políticos e populares, que foram prestar a última homenagem ao político mais emblemático do Tocantins.

José Wilson Siqueira Campos nasceu em Crato no Ceará, em 1928, filho de mestre Pacífico Siqueira Campos - que tinha a profissão de seleiro e sapateiro - e de dona Regina Siqueira Campos. Ficou órfão de mãe aos 12 anos e viajou pelo país por quase 10 anos, em busca de oportunidade. Trabalhou em vários ofícios em diversas cidades, até chegar à cidade de Colinas, no então Norte de Goiás, atual Colinas do Tocantins.

Em Colinas, Siqueira começou a trabalhar na área rural, o que despertou nele a vocação política: fundou a Cooperativa Goiana de Agricultores e deflagrou o movimento popular que pedia a criação do Tocantins. Na eleição seguinte foi candidato a vereador, tendo sido eleito com votação expressiva. Elege-se vereador de Colinas com maior votação (1965) e escolhido presidente da Câmara (1966). Era então filiado a Arena. Integraria também ao longo de sua carreira ao PDS, PDC, PFL, PL e PSDB.

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Desmembramento

Foi eleito deputado federal, reeleito por mais quatro mandatos, permanecendo no cargo entre 1971 e 1988, enquanto representante do norte goiano. Chegou a fazer uma greve de fome de 98 horas em favor da causa separatista. Siqueira foi deputado federal Constituinte e relator da Subcomissão dos Estados da Assembleia Nacional Constituinte, tendo redigido e entregado ao presidente da Assembleia (deputado Ulisses Guimarães) a fusão de emendas (conhecida como Emenda Siqueira Campos) que deu origem ao Estado do Tocantins, com a promulgação da Constituição Federal de 1988.

A criação do Tocantins, pelos deputados membros Assembleia Constituinte, finalizou uma luta de quase 200 anos dos moradores do então Norte de Goiás em prol da divisão do Estado, trazendo a perspectiva de desenvolvimento para uma região que viveu séculos de relativo isolamento. Com o Tocantins finalmente criado, Siqueira Campos se elegeu o primeiro governador, para mandato de dois anos (de 1 de janeiro de 1989 a 15 de março de 1991).

Foi também responsável pela construção da capital Palmas, a última cidade brasileira planejada do século 20.  Siqueira Campos voltou a ocupar o cargo de governador por mais três mandatos, período em que o Estado saiu da total precariedade até chegar ao início de sua industrialização, com obras importantes como a interligação das principais cidades do estado com pavimentação, os Hospitais Regionais das maiores cidades e outras obras estruturantes do novo Estado.

PODER JUDICIÁRIO TAMBÉM PRESTA HOMENAGENS

Integrantes do Poder Judiciário também foram dar o adeus ao ex-governador José Wilson Siqueira Campos.

O diretor da Escola Superior da Magistratura Tocantinense (Esmat), desembargador Marco Villas Boas – atual decano da Corte de Justiça -, foi o primeiro a chegar ao Palácio Araguaia para prestar homenagem ao criador do Estado.

Durante o velório, o desembargador ressaltou a relação de respeito e também de diálogo interinstitucional de Siqueira Campos com Judiciário tocantinense. Marco Villas Boas lembrou que o ex-governador costumava dizer que era o primeiro magistrado do Tocantins, fazendo uma referência especial ao Poder Judiciário. 

“Aquele Poder que tem condições de reparar desigualdades, de implementar desenvolvimento social através das suas decisões, de dar equilíbrio jurídico, segurança jurídica para o funcionamento das demais instituições, de modo que o Judiciário sempre foi prestigiado por ele”, ressaltou o desembargador, acrescentando ainda que a reverência é especial já que o estado “nasceu dos arroubos e valentias de um desembargador português, Joaquim Teotônio Segurado, que deixou a marca histórica e que ele (Siqueira Campos) valorizava.”

Desembargadora Maysa Vendramini presta sentimentos à viúva durante o velório. Foto: Rondinelli Ribeiro

Segurança jurídica

O desembargador afirmou ainda que era desejo do ex-governador que decisões judiciais fossem sempre cumpridas. “Tiveram muitas ações e políticas públicas questionadas nas barras dos tribunais, muitas vezes foram vitoriosas, outras vezes, o Judiciário teve que dar sua decisão, mas que também foi focada e voltada para a segurança jurídica e para o benefício do povo do Tocantins”.

Também estiveram no velório os desembargadores (as), Helvécio de Brito Maia Neto (vice-presidente do TRE),  Eurípedes Lamounier, Maysa Vendramini (corregedora-geral de Justiça), Pedro Nelson Miranda Coutinho. O desembargador aposentado, Luiz Gadotti, que também esteve no local e estava muito emocionado.

Juízes lamentam perda

Representando os magistrados do Tocantins, a  presidente da Associação dos Magistrados do Estado Tocantins (Asmeto), Odete Almeida, destacou a presença forte do ex-governador para a Magistratura.

“O governador Siqueira Campos foi o sócio honorário n°01 da Asmeto, o que muito nos trouxe alegrias e honra! Sempre foi um incentivador da Associação, razão pela qual lhe rendemos as mais sinceras homenagens, externando o nosso respeito a este grande homem: ícone do Estado do TO!”

Relações institucionais

A relação de respeito do Poder Judiciário com o Poder Executivo também foi ressaltada pelo ex-deputado estadual e filho de Siqueira Campos, Eduardo Siqueira Campos. Muito emocionado, ele disse que a Constituição estabelece, Executivo, Legislativo e Judiciário e que nem um Poder faz nada sem o outro.

“Ele (Siqueira Campos) teve o Poder Judiciário não como aliado, porque a Justiça não se alia a ninguém, ela se alia às causas. E a nossa causa do Tocantins teve no Poder Judiciário um dos seus três pilares. A minha gratidão a todos os desembargadores, aos que já foram e àqueles que estão por vir porque são gerações que estão chegando, que não vão mais conviver com ele, mas vocês que conviveram poderão dizer aos filhos e netos que estiveram aqui, então, recebam o que ele sempre me pediu, quem agradece somos nós. O dia de hoje é de gratidão.”

(Fotos: Rondinelli Ribeiro/TJTO)

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